Corona vírus, um viajante no nosso pequeno planeta
Eis que aparece um viajante
inesperado, Corona vírus ou COVID-19, um vírus que viaja a bordo dos seres humanos, que ultrapassa
fronteiras e não tem nenhum preconceito de raça, credo ou classe social. Apesar dos esforços de cientistas de todo o
mundo ainda se sabe pouco sobre ele, mas seus efeitos são imediatos: escolas,
universidades, teatros e museus fechados nas cidades mais atacadas por ele.
A distância física aconselhada
entre as pessoas é de dois metros, então quem está distante dessas cidades
sente certo alívio, aqueles que moram em pequenos centros urbanos ou em área
rurais se sentem instintivamente mais seguros, menos expostos ao contágio.
Mas é apenas uma ilusão
temporária, porque ao longo da estrada deserta tem uma pequena vila, depois
dela uma cidade, com um aeroporto ligado a outros tantos no mundo. Tem os
filhos que foram estudar nas grandes cidades, os vizinhos que saíram de férias,
o empreendedor que viajou para divulgar seus produtos. Tem os viajantes
apaixonados por novas terras e culturas. Pessoas que se encontram em
assembleias, reuniões, mesmo lá onde a humanidade se organiza sozinha. Tem um
parente que foi jantar na casa de outro, afinal como poderia saber? Tem um
quarto da humanidade viajando, ou seja, quase dois bilhões de pessoas, que
circulam num mundo que insiste em se dividir em países e estabelecer fronteiras
entre estados e cidades, na esperança de colocar ordem no caos fervilhante de
movimentos, relações, trocas, conflitos e migrações. Ninguém está imune, realmente ninguém.
E assim, o isolamento perde sua
consistência, nos damos conta, no bem e no mal, de estarmos menos sozinhos do
que pensávamos. A possibilidade de contágio, de TODOS os contágios é
proporcional à energia do mundo, do fervilhante mundo em movimento. O contágio
é morte (em minúsculo percentual), mas também é vida, com o curso de suas
trajetórias, das viagens, dos corpos em movimento. Estamos mais perto dos
outros do que imaginávamos, inevitavelmente perto de Wuhan, das grandes metrópoles
mundiais e também dos vilarejos e cidades pequenas que quase ninguém conhecia,
como Codogno, na Itália.
Tudo está em relação com tudo,
ninguém é uma ilha. Pelo menos para isso serve o contágio, que nos fazer sentir
na carne, no nosso medo, e na sagrada rejeição do medo, que de um lugar ao
outro tem poucos passos de distância.
Texto livremente inspirado na
crônica de Michele Serra, no jornal italiano “Repubblica”
03/03/2020
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