Corona vírus, um viajante no nosso pequeno planeta


This illustration provided by the Centers for Disease Control and Prevention (CDC) in January 2020 shows the 2019 Novel Coronavirus (2019-nCoV). (CDC via AP)
Eis que aparece um viajante inesperado, Corona vírus ou COVID-19,  um vírus que viaja a bordo dos seres humanos, que ultrapassa fronteiras e não tem nenhum preconceito de raça, credo ou classe social.  Apesar dos esforços de cientistas de todo o mundo ainda se sabe pouco sobre ele, mas seus efeitos são imediatos: escolas, universidades, teatros e museus fechados nas cidades mais atacadas por ele.

A distância física aconselhada entre as pessoas é de dois metros, então quem está distante dessas cidades sente certo alívio, aqueles que moram em pequenos centros urbanos ou em área rurais se sentem instintivamente mais seguros, menos expostos ao contágio.


Mas é apenas uma ilusão temporária, porque ao longo da estrada deserta tem uma pequena vila, depois dela uma cidade, com um aeroporto ligado a outros tantos no mundo. Tem os filhos que foram estudar nas grandes cidades, os vizinhos que saíram de férias, o empreendedor que viajou para divulgar seus produtos. Tem os viajantes apaixonados por novas terras e culturas. Pessoas que se encontram em assembleias, reuniões, mesmo lá onde a humanidade se organiza sozinha. Tem um parente que foi jantar na casa de outro, afinal como poderia saber? Tem um quarto da humanidade viajando, ou seja, quase dois bilhões de pessoas, que circulam num mundo que insiste em se dividir em países e estabelecer fronteiras entre estados e cidades, na esperança de colocar ordem no caos fervilhante de movimentos, relações, trocas, conflitos e migrações.  Ninguém está imune, realmente ninguém.


E assim, o isolamento perde sua consistência, nos damos conta, no bem e no mal, de estarmos menos sozinhos do que pensávamos. A possibilidade de contágio, de TODOS os contágios é proporcional à energia do mundo, do fervilhante mundo em movimento. O contágio é morte (em minúsculo percentual), mas também é vida, com o curso de suas trajetórias, das viagens, dos corpos em movimento. Estamos mais perto dos outros do que imaginávamos, inevitavelmente perto de Wuhan, das grandes metrópoles mundiais e também dos vilarejos e cidades pequenas que quase ninguém conhecia, como Codogno, na Itália.



Tudo está em relação com tudo, ninguém é uma ilha. Pelo menos para isso serve o contágio, que nos fazer sentir na carne, no nosso medo, e na sagrada rejeição do medo, que de um lugar ao outro tem poucos passos de distância.

Risultato immagini per mondo

Texto livremente inspirado na crônica de Michele Serra, no jornal italiano “Repubblica”
03/03/2020

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