segunda-feira, 15 de junho de 2020

Um belo Natal em Belém do Pará



Visitamos a charmosa cidade de Belém quando fomos passar o Natal com um casal de queridos amigos e família,  que moram no Pará há muitos anos. Mesmo com alguns lugares fechados tivemos a oportunidade de conhecer aspectos da capital através do olhar de seus moradores, que nos levaram ao centro da cidade, na Praça da República, para apreciarmos a arte e a arquitetura colonial da primeira cidade colonizada pelos portugueses na Amazônia, em 1616. 


Os prédios históricos muito bem preservados exibem além dos traços da arquitetura  colonial portuguesa nos casarões e nas igrejas, retratam o  período de plenitude durante o período da borracha, que no início do século XX, com a chegada de inúmeras família europeias transformaram a cidade, tornando-a conhecida Paris na América.


Nas últimas duas décadas, Belém passou por um forte movimento de verticalização, mas procura preservar muito bem o seu centro histórico. Exemplo disso é o elegantíssimo Teatro da Paz, construído em estilo neoclássico e inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, que foi palco de inúmeras apresentações de óperas, com os melhores músicos e cantores líricos da Europa. 

Veja a biografia de Carlos Gomes

Por exemplo, foi em Belém que o maior músico brasileiro do século XIX, Carlos Gomes, dirigiu o Conservatório de Música e recebeu inúmeras honrarias antes de sua morte, nesta terra paraense. Carlos Gomes encenou no Teatro da Paz a sua mais famosa ópera, O Guarani.


Não foi possível visitar o interior do Teatro da Paz, mas a imponência de sua arquitetura dá a dimensão do valor de sua arte e história, considerado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como um teatro-monumento.

Depois fomos visitar a Estação das Docas, que é um dos espaços que mais refletem a região amazônica. Referência nacional, o complexo turístico e cultural congrega gastronomia, cultura, moda e eventos nos 500 metros de orla fluvial do antigo porto de Belém. São 32 mil metros quadrados divididos em três armazéns e um terminal de passageiros. Nesse espaço maravilhoso degustamos alguns pratos típicos da culinária paraense.

Partindo do restaurante da Estação das Docas, onde também compramos algumas recordações do artesanato local, fomos passear na Praça Batista Campos, um belíssimo e imenso espaço verde preserva o “charme europeu” da época de sua estruturação e que recebeu o "Prêmio 100 Mais Brasil", da Revista Seleções, como a mais bela praça do país.



Nossos amigos também nos levaram para conhecer o Mercado Ver-o-Peso, um dos mercados públicos mais antigos do país, localizado às margens da baía do Guajará e considerado uma das maravilhas do estado. Foi eleito uma das 7 Maravilhas do Brasil por ser um dos mercados mais antigos do Brasil. 

 Aproveitamos para apreciar o artesanato e a infinidade de cores e sabores. Local indicado para degustar os sucos das frutas típicas da região, como, açaí, ingá, graviola, abricó, bacabá, taperebá-do-sertão, goiaba, jaca, tamarindo, sapoti, carambola, mari-mari, , biribá, acerola, caju, camu-camu, etc.


Perto do mercado “Ver-o-Peso” está a Praça Siqueira Campos ou Praça do Relógio, que é um logradouro público. Conhecida por abrigar um enorme relógio inglês em seu centro.

Nos encantamos também ao visitar o Espaço São José Liberto ou Polo Joalheiro, no antigo convento de São José, construído em 1749 pelos frades capuchos da Piedade, para promover as missões de evangelização em território brasileiro. Atualmente abriga setores criativos e categorias culturais, como patrimônio, expressões culturais, artes de espetáculo, criações culturais e funcionais. 


A "Casa do Artesão", o Museu de Gemas do Pará; o Anfiteatro Coliseu das Artes; o Memorial da Cela; e o Jardim da Liberdade são espaços que merecem ser apreciados, tanto pela arquitetura, arte e história, quanto pelos produtos de qualidade que o turista pode encontrar.

Museu de Gemas do Pará



O Museu Paraense Emílio Goeldi é uma das metas de uma próxima viagem, assim como desejamos participar da famosa e maior procissão católica do planeta, o Círio de Nazaré, maravilhosamente descrita por nossos amigos, com quem tivemos o prazer de conviver por alguns dias, no aconchego familiar.

Curiosidades:

Belém em hebraico quer dizer “casa do pão”, mas a cidade inicialmente foi um pequeno lugarejo conhecido por Mairi, moradia dos índios Tupinambás e Pacajás, comandados pelo cacique Guaimiaba (que posteriormente virariam escravos durante a colonização).

A cidade exerce significativa influência como metrópole regional, influenciando mais de oito milhões de pessoas nos estados do Pará, Amapá e parte do Maranhão, seja do ponto de vista cultural, econômico ou político.


                                            Belém do Pará Amazônia Brasil - 400 Anos 

Fontes:

terça-feira, 9 de junho de 2020

Carlos Gomes – um gênio da música italo-brasileira

Começo a escrever sobre Antônio Carlos Gomes (Nhô Tonico, como assinava em suas didicatórias) ao concluir a leitura de uma ótima biografia sua, publicada em 1997, por Marcus Góes, uma das maiores autoridades no assunto. Seu livro está escrito em italiano e se chama “Carlos Gomes – Un pionere alla Scala”, que conta a vida grandiosa e ao mesmo tempo muito difícil do grande compositor brasileiro, que dividiu seu tempo e sua arte, especialmente, entre os palcos italianos e brasileiros.



Concluo apaixonadamente a leitura e sinto o impulso de registrar e compartilhar alguns fatos sobre vida do compositor de grandes óperas, como: o Guarani, Condor, Maria Tudor, Fosca, Colombo e Lo Schiavo (O escravo), entre outras inúmeras sinfonias. Grande Antônio Carlos Gomes, considerado o maior compositor brasileiro do século XIX, que teve como primeiro mestre, Joaquim Giannini, famoso musicista italiano, que viveu muito tempo no Brasil, e começou a compor influenciado pelas partituras de ópera italianas, particularmente por Il Trovatore (1853), de Giuseppe Verdi.

 

Poucos sabem ou recordam que seu nome está registrado nos anais da história de um dos principais Teatros do mundo dedicados à ópera, o “Teatro alla Scala”, de Milão, onde um busto escultórico relembra sua importância. O que dizer então de seu nome em uma das principais ruas de Milão, “Via Carlos Gomes” no “Piazzale Loreto”?  Ou ainda, os inúmeros bares com o nome “Caffè Guarani”,  na Itália e em Portugal, que levam o nome de sua ópera mais famosa. Muitas escolas e conservatórios levam o seu nome adiante pela história.


Café Guarany, em Porto, Portugal
Foto de Manuel de Souza

Busto de Carlos Gomes no Museu do teatro alla  Scala, em Milão

Parco Villa Gomes Lecco
Parque Villa Gomes, na Rua Gomes 10, em Maggianico, Lecco
Carlos Gomes também construiu uma bela mansão em Maggianico, em Lecco, que pode ser visitada atualmente e onde é possível passear entre 40 espécies diversas no imenso parque.  A maravilhosa construção, que abrigou artistas de todas as áreas e presenciou inúmeros concertos musicais, foi vendida pelo grande compositor brasileiro quando enfrentou sérias dificuldades financeiras.  Se chama “Parco di Villa Gomes”, onde atualmente funciona o Instituto Musical, “Civico Istituto Musicale Giuseppe Zelioli” e uma importante Biblioteca dedicada à música.   

Civico Istituto Musicale Giuseppe Zelioli - Via Gomes, 10
na Villa Gomes, em Maggianico, Lecco
Estas são marcas indeléveis de sua história na música erudita italiana e brasileira, escrita por um jovem de Campinas, SP, nascido em uma família humilde, em 11 de julho de 1836. Sua mãe faleceu tragicamente aos 28 anos de idade. Seu pai era músico e vivia em dificuldades, com 26 filhos para sustentar. Com os filhos ele formou a Banda Musical de Campinas, onde Carlos Gomes iniciou seus passos artísticos, começou a lecionar piano e canto, apaixonado por óperas. Talentoso, começou a ser reconhecido por suas composições, levando-o a frequentar o  Imperial Conservatório de Música, com bolsa de estudos oferecida pela Corte.



D. Pedro II oferecia a cada cinco anos uma bolsa de estudos para um aluno que se destacava no Conservatório de Música, para estudar e se aperfeiçoar na Europa, com as despesas pagas pela Empresa de Ópera Lírica Nacional, conforme contrato com o governo Imperial. Estava assim concretizada a velha aspiração do jovem paulista, que, mesmo comovido, ao agradecer o Imperador, lembrou-se do seu velho pai e solicitou para este, o lugar de mestre da Capela Imperial. Dom Pedro II, enternecido ante aquele gesto de amor filial, concedeu.


O jovem contemplado pela Bolsa de Estudos tinha a possibilidade de escolher a capital europeia onde iria estudar, Carlos Gomes escolheu Milão. Chegou à Itália em 1864, com carta de apresentação do Imperador D. Pedro II. Mesmo assim enfrentou inúmeras dificuldades, não era fácil integrar-se no mundo europeu, especialmente nos círculos culturais e elitistas milaneses. Muitas vezes chamado de “selvagem”, preferia ignorar os apelidos e dizia que realmente lhe importava fazer conhecer sua música.

Foi assim, que aos poucos, com muito esforço e estudo construiu sua carreira, inicialmente nos pequenos teatros para finalmente brilhar no palco do “Teatro alla Scala” e ser aplaudido pelo público e pela crítica, com a ópera que o tornou mundialmente conhecido, “O Guarani”, inspirado no famoso romance de José de Alencar.

Teatro alla Scala, em Milão
Suas óperas também foram apresentadas com muito sucesso nos teatros brasileiros, contando sempre com o apoio de D. Pedro e da Corte Imperial, que procuravam ajudar a manter Carlos Gomes na Europa. Como contrapartida Gomes tinha que apresentar uma ópera sua, criada a partir dos estudos realizados na Itália, nos palcos brasileiros. A ópera apresentada para esse fim foi o “Guarani”, que se encaixava como uma luva no clima nacionalista reinante na época, além de se inspirar no romance mais famoso no Brasil, escrito por José de Alencar.

Depois disso, no decorrer de sua vida, apresentou também “Fosca”, considerada pelo compositor sua melhor ópera. Além de Salvador Rosa, Condor, Maria Tudor, Colombo e Lo Schiavo. Carlos Gomes disse:

“Escrevi “O Guarani” para os brasileiros, “Salvatore Rosa” para os italianos e “Fosca” para os entendidos”.




Sua trajetória no Brasil muda com o final da Monarquia e a Proclamação da República, que obrigou o Imperador D. Pedro e sua corte a fugir para a Europa, pois compositor passou um longo período sem o apoio que recebia. Os marechais e a nova burguesia no poder tinham outras prioridades e a amizade que Gomes tinha com o Imperador acabou por marcar sua relação com o governo brasileiro, além de ter deixado o compositor muito triste ao ver seu amigo no exílio.



Carlos Gomes vivia seus melhores momentos profissionais, conhecido e aclamado na Itália e no Brasil, também apresentou suas óperas em outros países da Europa e da América do Norte. A brilhante trajetória profissional, porém, segundo a pesquisa realizada por Marcus Goés, foi obscurecida pelas dificuldades pessoais, por problemas financeiros e problemas familiares, bem como pela dificuldade de integração nos meios europeus. Era sempre um brasileiro, um imigrante que ocupava um lugar privilegiado na música italiana, tolhendo o lugar destinado aos europeus.

Sua forma de se relacionar com outros artistas também era criticada e por muitos era considerada um pouco tempestiva ou grosseira. Sua habilidade de lidar com os bens materiais também deixava a desejar. Carlos Gomes se endividou ao investir na contratação de artistas e cenários para suas óperas, mas também para ostentar sua posição através da aquisição de bens e realização de festas, culminando com grandes escândalos relacionados às brigas judiciais com a esposa e o falimento pessoal, representado na perda de todos os seus bens.

 Casou com uma jovem pianista italiana, Adelina Péri, e tiveram cinco filhos, três destes faleceram na tenra idade, o filho Carlos faleceu aos 25 anos vítima de tuberculose e sobreviveu somente sua filha Italia, que não deixou descendência.  

Carlos Gomes passou por dificuldades financeiras nos últimos anos de sua vida, na Itália já não fazia o mesmo sucesso e no Brasil também já não tinha o mesmo apoio. Com a saúde debilitada, tinha um câncer na língua, que se se espalhou pela traqueia, com o ilho doente e as despesas se acumulando com a formação dos filhos na Itália, resolveu aceitar o convite de um caro amigo para dirigir o Conservatório de Música do Pará.


Porém, cada vez mais doente não conseguia mais realizar seus projetos no Brasil, que finalmente reconhecia novamente o valor do compositor e lhe dedicava cargos e honrarias. Morreu pouco tempo depois, em 1896, na cidade de Belém. Seu corpo foi embalsamado e levado para o Rio de Janeiro, onde recebeu honrarias de autoridades e da multidão que desejava se despedir do grande gênio da música erudita brasileira. Foi enterrado em sua cidade, Campinas, mas a notícia da sua morte foi publicada na Itália e em diversos países, com reconhecimento da sua obra.

Algumas apresentações de suas obras na atualidade:


As obras de Carlos Gomes continuam sendo apresentadas também na Itália, exemplo disso foi a apresentação da sua óperia, "Lo Schiavo", no Teatro Lírico de Cagliari, em 2019.

No Brasil suas obras continuam sendo apreciadas, exemplo disso foi a apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 2016,  da obra de Antônio Carlos GOMES (1836-1896) como uma homenagem aos 180 anos de nascimento do compositor, em 11 de julho de 1836).


 Abertura da ópera Il Guarany (1870), no dia 11 de julho de 2016, pela Orquestra Sinfônica da UFRJ   com Regência de Roberto Duarte

Última foto de Carlos Gomes

Sua ópera "O Guarani", cantada por M.Caballe & J. Carreras / Sento una forza indomita



Monumentos nas principais cidades do Brasil

A história brasileira também se orgulha profundamente do grande compositor e maestro Carlos Gomes, mas nem sempre foi assim. Atualmente esculturas e bustos representam o compositor em diversos espaços públicos, em obras de arte estão representados os personagens de suas óperas, seu nome figura entre importantes Conservatórios de música e em ruas de importantes cidades brasileiras.
1.      
Estátua de Carlos Gomes na Cinelândia, no centro da cidade do Rio de Janeiro. 
Por Quintinense

2.      
Monumento a Carlos Gomes na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo. Observa-se a estátua de Carlos Gomes sentado ao topo do monumento. Por Béria L. Rodríguez    

Busto de Carlos Gomes em frente ao Auditório Araújo Viana, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foto de Eugenio Hansen, OFS
4.     
  Busto em homenagem a Carlos Gomes em frente ao Teatro Municipal de Paulinia, São Paulo. 
5.       
Moeda  - Por MisterSanderson 


Principal fonte:  GÓES, Marcus. Un pionere alla Scala. Nuove Edizione, 1997.


https://it.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Carlos_Gomes
http://www.teatroliricodicagliari.it/it/news/News2019/2019_Loschiavo.html
https://carlosgomes.campinas.sp.gov.br/historia/vida-de-carlos-gomes
https://www.civicalecco.org/antonio-carlos-gomes/
http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/sobre-o-centro-de-documentacao-2/exposicao-carlos-gomes/
www.eccolecco.it
www.mariapelomundo.com.br
Monografia: Il Guarany de Antônio Carlos Gomes - a história de uma ópera nacional. 2011

Curiosidades relatadas  Wikipedia

Durante uma de suas visitas a São Paulo, Pietro Mascagni (autor de Cavalleria Rusticana) que era amigo de Carlos Gomes, ficou intrigado com o monumento da Praça Ramos de Azevedo que acabara de ser inaugurado. "Admirei o conjunto, mas não reconheci a fisionomia do maestro esculpida no bronze", conta. "Soube depois que se tratava do busto do General José Gomes Pinheiro Machado. Não me contive e fui procurar o Sr. Washington Luís, que a princípio se mostrou incrédulo, só se convencendo com provas. O governo mandou retirar o busto e substituí-lo pelo verdadeiro". Graças a Mascagni, a estátua que vemos junto ao Theatro Municipal de São Paulo hoje, tem a cabeça certa.

Carlos Gomes já foi retratado como personagem na televisão, interpretado por Paulo Betti na minissérie "Chiquinha Gonzaga" (1999).

Teve sua efígie impressa nas notas de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) de 1990 e em moedas de trezentos réis que foram emitidas em 1936 e 1937.

O livro Carlos Gomes - Documentos Comentados (2007) de Marcus Góes, da Algol Editora traz documentos históricos de Carlos Gomes e cartas.

Livro Homenagem a memoria de Carlos Gomes, organizado pela " Academia de Amadores da Música" de Lisboa, pela Editora Cia Nacional em 1897.

O livro O selvagem da ópera (1994) de Rubem Fonseca, um romance, biografia, argumento cinematográfico toma episódios da vida de Carlos Gomes como base para seu enredo.