Carlos Gomes – um gênio da música italo-brasileira
Começo a escrever sobre Antônio Carlos
Gomes (Nhô Tonico, como assinava em suas didicatórias) ao concluir a leitura de uma ótima biografia sua, publicada em 1997, por Marcus Góes,
uma das maiores autoridades no assunto. Seu livro está escrito em italiano e se
chama “Carlos Gomes – Un pionere alla Scala”, que conta a vida grandiosa e ao
mesmo tempo muito difícil do grande compositor brasileiro, que dividiu seu
tempo e sua arte, especialmente, entre os palcos italianos e brasileiros.
Concluo apaixonadamente a leitura
e sinto o impulso de registrar e compartilhar alguns fatos sobre vida do
compositor de grandes óperas, como: o Guarani, Condor, Maria Tudor, Fosca,
Colombo e Lo Schiavo (O escravo), entre outras inúmeras sinfonias. Grande Antônio Carlos Gomes, considerado o maior compositor brasileiro do século XIX, que teve como primeiro mestre, Joaquim Giannini, famoso musicista italiano, que viveu muito tempo no Brasil, e começou a compor influenciado pelas partituras de ópera italianas, particularmente por Il Trovatore (1853), de Giuseppe Verdi.
Poucos sabem ou recordam que seu nome está registrado nos anais da história de um dos principais Teatros do mundo dedicados à ópera, o “Teatro alla Scala”, de Milão, onde um busto escultórico relembra sua importância. O que dizer então de seu nome em uma das principais ruas de Milão, “Via Carlos Gomes” no “Piazzale Loreto”? Ou ainda, os inúmeros bares com o nome “Caffè Guarani”, na Itália e em Portugal, que levam o nome de sua ópera mais famosa. Muitas escolas e conservatórios levam o seu nome adiante pela história.
Poucos sabem ou recordam que seu nome está registrado nos anais da história de um dos principais Teatros do mundo dedicados à ópera, o “Teatro alla Scala”, de Milão, onde um busto escultórico relembra sua importância. O que dizer então de seu nome em uma das principais ruas de Milão, “Via Carlos Gomes” no “Piazzale Loreto”? Ou ainda, os inúmeros bares com o nome “Caffè Guarani”, na Itália e em Portugal, que levam o nome de sua ópera mais famosa. Muitas escolas e conservatórios levam o seu nome adiante pela história.
Café Guarany, em Porto, Portugal Foto de Manuel de Souza |
Busto de Carlos Gomes no Museu do teatro alla Scala, em Milão |
Parque Villa Gomes, na Rua Gomes 10, em Maggianico, Lecco |
Civico Istituto Musicale Giuseppe Zelioli - Via Gomes, 10 na Villa Gomes, em Maggianico, Lecco |
D. Pedro II oferecia a cada cinco
anos uma bolsa de estudos para um aluno que se destacava no Conservatório de
Música, para estudar e se aperfeiçoar na Europa, com as despesas pagas pela
Empresa de Ópera Lírica Nacional, conforme contrato com o governo Imperial. Estava
assim concretizada a velha aspiração do jovem paulista, que, mesmo comovido, ao
agradecer o Imperador, lembrou-se do seu velho pai e solicitou para este, o
lugar de mestre da Capela Imperial. Dom Pedro II, enternecido ante aquele gesto
de amor filial, concedeu.
O jovem contemplado pela Bolsa de
Estudos tinha a possibilidade de escolher a capital europeia onde iria estudar,
Carlos Gomes escolheu Milão. Chegou à Itália em 1864, com carta de apresentação
do Imperador D. Pedro II. Mesmo assim enfrentou inúmeras dificuldades, não era
fácil integrar-se no mundo europeu, especialmente nos círculos culturais e
elitistas milaneses. Muitas vezes chamado de “selvagem”, preferia ignorar os
apelidos e dizia que realmente lhe importava fazer conhecer sua música.
Foi assim, que aos poucos, com muito esforço e estudo construiu sua carreira, inicialmente nos pequenos teatros para finalmente brilhar no palco do “Teatro alla Scala” e ser aplaudido pelo público e pela crítica, com a ópera que o tornou mundialmente conhecido, “O Guarani”, inspirado no famoso romance de José de Alencar.
Suas óperas também foram apresentadas
com muito sucesso nos teatros brasileiros, contando sempre com o apoio de D.
Pedro e da Corte Imperial, que procuravam ajudar a manter Carlos Gomes na
Europa. Como contrapartida Gomes tinha que apresentar uma ópera sua, criada a
partir dos estudos realizados na Itália, nos palcos brasileiros. A ópera
apresentada para esse fim foi o “Guarani”, que se encaixava como uma luva no
clima nacionalista reinante na época, além de se inspirar no romance mais
famoso no Brasil, escrito por José de Alencar.
Foi assim, que aos poucos, com muito esforço e estudo construiu sua carreira, inicialmente nos pequenos teatros para finalmente brilhar no palco do “Teatro alla Scala” e ser aplaudido pelo público e pela crítica, com a ópera que o tornou mundialmente conhecido, “O Guarani”, inspirado no famoso romance de José de Alencar.
Teatro alla Scala, em Milão |
Depois disso, no decorrer de sua
vida, apresentou também “Fosca”, considerada pelo compositor sua melhor ópera.
Além de Salvador Rosa, Condor, Maria Tudor, Colombo e Lo Schiavo. Carlos Gomes
disse:
“Escrevi “O Guarani” para os brasileiros, “Salvatore Rosa” para os italianos e “Fosca” para os entendidos”.
Sua trajetória no Brasil muda com o final da Monarquia e a Proclamação da República, que obrigou o Imperador D. Pedro e sua corte a fugir para a Europa, pois compositor passou um longo período sem o apoio que recebia. Os marechais e a nova burguesia no poder tinham outras prioridades e a amizade que Gomes tinha com o Imperador acabou por marcar sua relação com o governo brasileiro, além de ter deixado o compositor muito triste ao ver seu amigo no exílio.
Carlos Gomes vivia seus melhores
momentos profissionais, conhecido e aclamado na Itália e no Brasil, também
apresentou suas óperas em outros países da Europa e da América do Norte. A
brilhante trajetória profissional, porém, segundo a pesquisa realizada por
Marcus Goés, foi obscurecida pelas dificuldades pessoais, por problemas
financeiros e problemas familiares, bem como pela dificuldade de integração nos
meios europeus. Era sempre um brasileiro, um imigrante que ocupava um lugar
privilegiado na música italiana, tolhendo o lugar destinado aos europeus.
As obras de Carlos Gomes continuam sendo apresentadas também na Itália, exemplo disso foi a apresentação da sua óperia, "Lo Schiavo", no Teatro Lírico de Cagliari, em 2019.
No Brasil suas obras continuam sendo apreciadas, exemplo disso foi a apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 2016, da obra de Antônio Carlos GOMES (1836-1896) como uma homenagem aos 180 anos de nascimento do compositor, em 11 de julho de 1836).
Abertura da ópera Il Guarany (1870), no dia 11 de julho de 2016, pela Orquestra Sinfônica da UFRJ com Regência de Roberto Duarte
Sua forma de se relacionar com outros artistas também era criticada e por muitos era considerada um pouco tempestiva ou grosseira. Sua habilidade de lidar com os bens materiais também deixava a desejar. Carlos Gomes se endividou ao investir na contratação de artistas e cenários para suas óperas, mas também para ostentar sua posição através da aquisição de bens e realização de festas, culminando com grandes escândalos relacionados às brigas judiciais com a esposa e o falimento pessoal, representado na perda de todos os seus bens.
Casou com uma jovem pianista italiana, Adelina Péri, e tiveram cinco filhos, três destes faleceram na tenra idade, o filho Carlos faleceu aos 25 anos vítima de tuberculose e sobreviveu somente sua filha Italia, que não deixou descendência.
Carlos Gomes passou por dificuldades financeiras nos últimos anos de sua vida, na Itália já não fazia o mesmo sucesso e no Brasil também já não tinha o mesmo apoio. Com a saúde debilitada, tinha um câncer na língua, que se se espalhou pela traqueia, com o ilho doente e as despesas se acumulando com a formação dos filhos na Itália, resolveu aceitar o convite de um caro amigo para dirigir o Conservatório de Música do Pará.
Carlos Gomes passou por dificuldades financeiras nos últimos anos de sua vida, na Itália já não fazia o mesmo sucesso e no Brasil também já não tinha o mesmo apoio. Com a saúde debilitada, tinha um câncer na língua, que se se espalhou pela traqueia, com o ilho doente e as despesas se acumulando com a formação dos filhos na Itália, resolveu aceitar o convite de um caro amigo para dirigir o Conservatório de Música do Pará.
Porém, cada vez mais doente não conseguia mais realizar seus projetos no Brasil, que finalmente reconhecia novamente o valor do compositor e lhe dedicava cargos e honrarias. Morreu pouco tempo depois, em 1896, na cidade de Belém. Seu corpo foi embalsamado e levado para o Rio de Janeiro, onde recebeu honrarias de autoridades e da multidão que desejava se despedir do grande gênio da música erudita brasileira. Foi enterrado em sua cidade, Campinas, mas a notícia da sua morte foi publicada na Itália e em diversos países, com reconhecimento da sua obra.
Algumas apresentações de suas obras na atualidade:
Algumas apresentações de suas obras na atualidade:
As obras de Carlos Gomes continuam sendo apresentadas também na Itália, exemplo disso foi a apresentação da sua óperia, "Lo Schiavo", no Teatro Lírico de Cagliari, em 2019.
No Brasil suas obras continuam sendo apreciadas, exemplo disso foi a apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 2016, da obra de Antônio Carlos GOMES (1836-1896) como uma homenagem aos 180 anos de nascimento do compositor, em 11 de julho de 1836).
Abertura da ópera Il Guarany (1870), no dia 11 de julho de 2016, pela Orquestra Sinfônica da UFRJ com Regência de Roberto Duarte
Última foto de Carlos Gomes |
Sua ópera "O Guarani", cantada por M.Caballe & J. Carreras / Sento una forza indomita
Monumentos nas principais cidades do Brasil
A história brasileira também se orgulha profundamente do grande compositor e maestro Carlos Gomes, mas nem sempre foi assim. Atualmente esculturas e bustos representam o compositor em diversos espaços públicos, em obras de arte estão representados os personagens de suas óperas, seu nome figura entre importantes Conservatórios de música e em ruas de importantes cidades brasileiras.
1.
Estátua de Carlos Gomes na Cinelândia, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Por Quintinense |
2.
Monumento a Carlos Gomes na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo. Observa-se a estátua de Carlos Gomes sentado ao topo do monumento. Por Béria L. Rodríguez
|
Busto de Carlos Gomes em frente ao Auditório Araújo Viana, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foto de Eugenio Hansen, OFS
4.
Busto
em homenagem a Carlos Gomes em frente ao Teatro Municipal de Paulinia, São
Paulo.
Principal fonte: GÓES, Marcus. Un pionere alla Scala. Nuove Edizione, 1997.
https://it.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Carlos_Gomes
https://carlosgomes.campinas.sp.gov.br/historia/vida-de-carlos-gomes
https://www.civicalecco.org/antonio-carlos-gomes/
http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/sobre-o-centro-de-documentacao-2/exposicao-carlos-gomes/
www.eccolecco.it
www.mariapelomundo.com.br
Monografia: Il Guarany de Antônio Carlos Gomes - a história de uma ópera nacional. 2011
Curiosidades relatadas Wikipedia
Durante uma de suas visitas a São Paulo, Pietro Mascagni (autor de Cavalleria Rusticana) que era amigo de Carlos Gomes, ficou intrigado com o monumento da Praça Ramos de Azevedo que acabara de ser inaugurado. "Admirei o conjunto, mas não reconheci a fisionomia do maestro esculpida no bronze", conta. "Soube depois que se tratava do busto do General José Gomes Pinheiro Machado. Não me contive e fui procurar o Sr. Washington Luís, que a princípio se mostrou incrédulo, só se convencendo com provas. O governo mandou retirar o busto e substituí-lo pelo verdadeiro". Graças a Mascagni, a estátua que vemos junto ao Theatro Municipal de São Paulo hoje, tem a cabeça certa.
Carlos Gomes já foi retratado como personagem na televisão, interpretado por Paulo Betti na minissérie "Chiquinha Gonzaga" (1999).
Teve sua efígie impressa nas notas de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) de 1990 e em moedas de trezentos réis que foram emitidas em 1936 e 1937.
O livro Carlos Gomes - Documentos Comentados (2007) de Marcus Góes, da Algol Editora traz documentos históricos de Carlos Gomes e cartas.
Livro Homenagem a memoria de Carlos Gomes, organizado pela " Academia de Amadores da Música" de Lisboa, pela Editora Cia Nacional em 1897.
O livro O selvagem da ópera (1994) de Rubem Fonseca, um romance, biografia, argumento cinematográfico toma episódios da vida de Carlos Gomes como base para seu enredo.
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