Chicago, uma experiência familiar na Veneza contemporânea
Uma cidade encantadora, conhecida
como a cidade do vento, do blues e dos arranha-céus. Situada no belíssimo e
enorme Lago Michigan, tem uma vida fluvial intensa e como em Veneza, usa barcos
como transporte e para uma infinidade de atividades: esporte, passeios
turísticos, barcos da polícia, ambulâncias, taxis, enfim, muito da vida da
cidade passa pelo rio.
Nós sempre gostamos de viver
próximos à agua e nos encantamos com cidades que se formaram nas margens de
rios, lagos ou mares. Chicago é mais que uma cidade, é uma experiência a ser
repetida mais de uma vez na vida. Meu marido queria voltar e me apresentar seus
parentes queridos, que emigraram da Itália nos anos 50, mais especificamente,
da Calábria. Foi uma experiência maravilhosa viver por alguns dias com sua
família e amigos, que nos receberam com muito afeto. Aliás, sempre pensei que
os afetos e as relações com as pessoas também influem no amor que desenvolvemos
pelos lugares. Nós dois podemos afirmar que Chicago mora nos nossos corações.
Estávamos um pouco afastados do
centro, na casa dos parentes, vivendo em um bairro tranquilo, típico de classe
média americana, com lindos jardins, sem cercas ou muros. As casas, construídas
com ambientes preparados para enfrentar os dias terrivelmente frios do inverno,
muitas vezes também tem ambientes subterrâneos, que são ocupados nos períodos
de grandes nevascas. Não é difícil encontrar casas com duas cozinhas, salas e
quartos duplos. As garagens organizadas como vimos em muitos filmes americanos,
com uma infinidade de ferramentas. Na casa dos parentes e dos seus amigos
calabreses ou descendentes, que é a população predominante no bairro, tem muitas
hortas com frutas, verduras e tomates, que logo se transformam em “passata di
pomodoro” (molho de tomate), lembrando as raízes italianas. Além de eletrodomésticos
“ultra-modernos” e comodidades típicas de uma população, que com seu trabalho
foi buscar a fortuna na América.
Para visitar o centro da cidade
íamos de ônibus ou de metrô, para caminharmos tranquilamente nas margens do rio
Chicago e apreciar a arquitetura contemporânea e exuberante, o circular
constante de barcos e a infinidade de atividades que a cidade oferece, desde
espaços com jogos, bares, restaurantes ou simplesmente bancos para sentar e
deixar a vida passar.
A trilha sonora da cidade é o
blues e em toda parte se pode ouvir o gênero musical originado por
afro-americanos em torno do fim do século XIX, que teve em Chicago a sua máxima
expressão.
Ao entardecer, sentar no “Riverwalk”, em um dos bares na margem
do rio, tomar um drinque e observar o desfile de barcos privados e públicos, é
uma atividade apreciada por moradores e turistas.
No dia seguinte, caminhando no
imenso Grant Park, fomos até a Buckingham
Fountain, que é um marco de Chicago, por sua arquitetura e beleza é conhecida
no mundo todo.
Millenium Park
Passear no Millenium Park é uma
maravilha, um parque imenso onde inevitavelmente nós podemos encontrar muitas
instalações artísticas, como a famosa The Cloud Gate di Anish Kapoor, que
recebeu o afetuoso apelido The Bean
(o feijão), no qual se espelham os edifícios da cidade e onde as pessoas fazem
inúmeras fotografias.
Crown Fountain, imagens de vídeo projetadas em duas torres de
cristal, com 15 metros de altura, apresenta aleatoriamente diversos rostos de
habitantes de Chicago, que cospem água, elemento principal da cidade e símbolo
da vida. O espelho d’água diante das torres convida crianças e adultos a
brincar e se molhar um pouco entre as duas fontes. Essa maravilha, que se
tornou uma das principais coleções de arte pública dos Estados Unidos, foi projetada
pelo artista espanhol Jaume Plensa e inspirada no povo de Chicago.
Apresentações de artistas,
músicos e bailarinos em diversos pontos do Parque, durante o verão, tornam esse
espaço um ponto de atração constante para turistas e moradores.
Numa extremidade do parque se
encontra Jay Pritzker Pavillon, que
é uma concha acústica da cidade, outro belo exemplo de arquitetura.
As Galerias Boeing (North Boeing Gallery e South Boeing Gallery)
são espaços para exposições ao ar livre no Millennium Park.
Os canais e a reversão do curso do rio
Porém, para compreender melhor a
cidade de Chicago é fundamental fazer um tour pelos seus canais e conhecer
aquele que é considerado "Monumento de Engenharia Civil do Milênio"
pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis (ASCE). Uma obra que possibilitou
reverter o curso do rio Chicago, que tinha se tornado extremamente poluído com
o advento da industrialização. A construção continuou ininterrupta e o canal
foi ampliado várias vezes, incluindo a construção de outros canais para apoiar
e aperfeiçoar o sistema. Com a reversão do rio, o abastecimento de água
melhorou muito, juntamente com a saúde dos habitantes de Chicago. Uma conquista
verdadeiramente inovadora em mais de uma maneira. Atualmente as belas águas do lago
Michigan e do rio Chicago estão entre as maiores atrações da cidade.
Willis Tower
Visitar a Willis Tower (antigamente chamada de Sears Tower),
com 442 m de altura é uma experiência inesquecível. Aqui um elevador com alta
velocidade nos transporta ao 108º andar, onde no Skydeck, se têm uma vista de
360º graus da cidade. Outra experiência imperdível para quem não tem medo de
altura na Torre Willis são os cubos de vidro, que formam espécies de sacadas
que avançam fora do arranha-céu, onde caminhamos sobre a cidade, nos sentindo
suspensos no ar.
Chicago Cubs
Visitar o estádio “Wrigley Field” e assistir uma partida
de beisebol é sentir na pele a alma americana. Meu marido é fã de beisebol, já
foi treinador e é torcedor do Chicago Cubs, mas para mim foi esta foi a
primeira experiência, achei emocionante.
Para entrarmos no clima do jogo
decidimos comprar camisetas e bonés do time, assim quando entramos no metrô já
nos sentimos parte da calorosa torcida que ia para o estádio. São muitas horas
de jogo, durante as quais se pode descer das arquibancadas para comprar
cervejas, hambúrgueres e “hot dogs”, num clima de “quem chegou em casa para ver
a partida”. Esse ambiente acolhedor tem
muito a ver com a história do estádio, que foi construído pela família Wrigley,
produtora de gomas de mascar. A estrutura arquitetônica foi mantida,
preservando as suas características, mesmo após reformas e modernizações. O
proprietário do time sempre foi resistente a colocar a iluminação no estádio,
mesmo que isso já tinha sido feito em todos os outros, porque os jogos noturnos
iriam perturbar o bairro, pois o campeonato de beisebol tem partidas
diariamente.
Adler Planetarium
Visitamos o planetário “Adler’,
que está localizado nas margens do Lago Michigan, e faz parte do complexo
cultural, conhecido como “Museum Campus”, onde estão o “Shedd Aquarium” e o
“Field Museum”“. Nós visitamos somente o planetário, pois somos apaixonados por
astronomia.
A vista que se tem da cidade de Chicago é magnífica!
Uma história de Chicago - O Incêndio da cidade e
Fênix renascida
O planejamento moderno de Chicago
foi consequência direta de um incêndio de grandes proporções que devastou a
cidade no final do século XIX, no ano de 1871. O incêndio durou dois dias,
deixou trezentas vítimas, cem mil habitantes sem casa.
Nessa época a cidade de Chicago tinha apenas 185
bombeiros apenas. Era uma época de seca e o fogo se alastrou fora de controle, que
foi apagado somente com a chegada da chuva.
Foi a mobilização dos americanos e seu otimismo a formar as bases para a
reconstrução, com ajuda de diversos países, que foi reconstruída um ano depois
da catástrofe.
Um novo plano diretor foi criado, fazendo de Chicago uma referência
nos estudos sobre arquitetura moderna e design. Atualmente se realiza na cidade
a importante Bienal de Arquitetura.
Chicago nos encantou por sua
beleza, sua arquitetura, suas belezas naturais, o jeito acolhedor de seu povo.
Nos deixa o exemplo de força de vontade e otimismo ao se levantar das cinzas,
literalmente, reconstruindo a cidade em um ano.
Mudou o curso do rio quando as águas estavam poluídas e a população
estava sofrendo as consequências, criando uma inovadora rede de canais. Uma
cidade onde gostaríamos de morar, ou pelo menos, retornar.
Histórias como a de Chicago
ampliam nossa visão de mundo, nos dão esperança.
Como diz o escritor
italiano, Beppe Severgnini:
“Uma viagem desorienta nossas certezas, mostra
quão pouco sabemos e quanto temos que aprender”.
Agosto de 2017
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